os dois velhos pelados atrás da moita vieram com todos os seus metais espetáculo-seculares: uns trompetes gemem; outros tossem; os sax se arrastam transtemporalmente — dos porões escuros da tropicália-DOPS às ondas superfici-digitais do ôjurduí — soando nos pavilhões dos nossos ouvidos feito lesmas radioativas.
e sem a possibilidade de dar tudo errado não há teatro, se bem que a possibilidade de dar tudo errado parece ser a essência mesma do teatro, prescindindo de qualquer corpo ou espaço amplo, afinal tudo tem a possibilidade de dar errado...
A agonia é uma vivência íntima da infância, bastando que não encaremos com olhos de pais cada um desses espécimes infantis. Pois os bebês estão agonizando a todo momento, e isso mesmo ou principalmente quando estão sorrindo.
Justo quando pensamos estar fazendo uma coisa sumamente importante pela vida na Terra, podemos estar contribuindo para a sua mais completa destruição.
A crítica, seja ela cruel, apaziguadora, ácida, violenta, elogiosa, entusiasmada, apaixonada ou branda, deve ser sempre a expressão de uma cisão, e nunca de uma adesão. A adesão não constrói a negatividade essencial ao pensamento crítico.
Não é porque você se tornou artista que isso te eximirá de ser um completo idiota. Ser artista não te salva de nada: nem das agruras da vida, nem da timidez, nem da falta de consistência política, nem da burrice, nem da canalhice.
Quem já presenciou o vai-e-vem glamuroso dos festivais ou já foi hipnotizado pela variedade de camisas estampadas com flores, geometrias graffiti e caveirinhas, não suspeita que aquelas pessoas estejam, na verdade, absortas na nobre tarefa delegada aos cineastas do segundo milênio: capturar o real.
“Um dia esse menino voa”, proclamava minha vó enquanto me via balançar os braços debaixo da mesa. Uma criança pode agitar os braços como quiser, mas eu agitava diferente. Eram…
Sobre o texto “Matheus Nachtergaele, a sua peça é triste e necessária!”, de Cristina Leifer, no site Cenáculo Núcleo de Estudos Teatrais.
Sobre “Humor de Santo”, de Paulo Mansur
De todas as formas da crítica, a de bar é a mais ancestral e recorrente entre os mortais. Mas não é porque aparece quase sempre espontaneamente, despretensiosa e de viés que carecerá de uma rigorosa metodologia própria.
Sobre Looping - Bahia Overdub, de Felipe Assis, Leonardo França e Rita Aquino
A partir de Intempestivamente, performance de Adam Kinner apresentada na Escola de Dança da UFBA.
Sobre o espetáculo “As Pequenas Raposas” O bom de ser honesto é que a concorrência é pequena. (Marcos Castelhano, “Love Songs”, A Tarde FM) Nas vésperas do São João,…
Em “Memórias do Subsolo” Dostoiévski narra a fábula de um sujeito que resolveu mijar numa das pilastras do Palácio de Cristal. A imagem deve ter proporcionado boas risadas ao autor;…
Certas coisinhas pequenas demais Sobre a Galeria ENTRE, de Alexandre Guimarães. É uma casa antiga, branca com detalhes azuis, numa rua de passagem do bairro mais boêmio da cidade. Para…
A partir da coluna Martin Gonçalves, do site Feminino e Além.
As coisas do mundo estão uma loucura e é quase um problema, frente à urgência geral, ainda ter de escrever sobre Henrique Wagner.
A partir de um dia do "Perfor7 [como?]", sétima edição do fórum de performance
da BrP. São Paulo, Praça das Artes, 15 de novembro de 2016.
Roteiro: Daniel Guerra
Desenho: Pedro Pirôpo
Imagino que ao leitor deva estranhar duplamente o título da crítica. Primeiro deve vir o susto de topar com uma expressão desse quilate escrita assim, logo no topo, mesmo em revista tão afeita a certas diversões.
Piso as botas no pátio do Goethe-Institut, peço um quiche de alho-poró, escolho uma mesa, olho ao redor e me sinto bem cool. Sou o artista solitário. O crítico. Meu olhar é arguto e sagaz, vim de banho tomado, estou pronto para o trabalho.
Considerando que a reverberação da crítica na nossa cidade ainda oscila entre o silêncio rancoroso e a histeria biliosa, decidimos escrever este humilde manual dividido em duas partes.
Crítica a partir da crítica de Eduarda Uzêda sobre “Egotrip —Ser ou não ser, eis a comédia”, publicada no Jornal A Tarde, dia 13 de Julho de 2016.
Na edição anterior, tivemos uma breve discussão sobre a palavra acontecimento. É interessante que esse conceito esteja aparecendo na boca de tantos criadores ao mesmo tempo. Poderíamos chamar a isso sincronicidade.
Medeia era uma mandioca. Vivia fincada na terra, espasmódica, assim como o nariz do meu amigo ao lado, visivelmente alérgico ao teatro contemporâneo.
O corpo não é um território neutro. Foram necessários séculos de cultura para que finalmente pudéssemos pensá-lo como suporte, quando na verdade é processo inacabado e tráfego incessante de informações. Forma mutante e indisciplinada, matéria revoltada; não baixa a crina, mesmo sob o peso milenar da chibata e da educação.
Uma das melhores coisas das colunas Selfie, Rizoma e Treta é que nelas não sou obrigado a justificar nada. Só teria que dar minha idéia, na lata. Entretanto, inicio com um prelúdio a la Pero Vaz de Caminha.
Vivemos um período bastante complexo, e freqüentemente essa complexidade transparece de forma paradoxal.
Depois do escuro que sempre relembra que o teatro é feito de morte, Darth Vader de Olinda aparece na cadeira giratória envolto em fumaça. Então o primeiro riso da platéia…
O que era pra ser uma Crítica da Crítica transforma-se em Crítica da Não-Crítica. Ou seja, falarei de sua ausência. Essa coluna, que deveria pensar críticas produzidas na cidade, abordará sua falta, traçando possíveis causas e outras possibilidades de agenciamento do problema.